Minimalismo: estilo de vida ou armadilha de consumo?
- luaradesigndeinter
- há 24 horas
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Referência:
Wilson AV, Bellezza S. Consumer Minimalism. Campbell MC, McFerran B, eds. Journal of Consumer Research. 2022;48(5):796-816. doi:10.1093/jcr/ucab038
O que é minimalismo?
“Menos é mais”
Embora existam indícios de uma busca por simplicidade e minimalismo desde o início do século XIX, o termo “minimalismo” só começou a ganhar destaque em meados da década de 1960 a partir de um movimento nas artes visuais americanas. Nesse contexto, o minimalismo surgiu como uma resposta ao excesso emocional e simbólico do expressionismo abstrato (ver obras de Pollock – a principal referência desse estilo).

Os artistas minimalistas buscavam eliminar os exageros da arte — tanto na emoção quanto na simbologia — para dar lugar à simplicidade essencial. Assim, o minimalismo passou a designar uma estética que atravessa diferentes expressões artísticas — das artes visuais à arquitetura, da música à literatura — sempre marcada pela redução das formas, do conteúdo e pela valorização do essencial. Hoje em dia, o minimalismo também faz parte do movimento “Essencialista” que defende a ideia de comprar e adquirir cada vez menos, ou seja, comprar somente o essencial.
O consumidor Minimalista
Quem é este ser minimalista? É aquele do guarda-roupa monocromático, o que mora num estúdio de luxo em São Paulo, é também aquele que prefere qualidade em detrimento da quantidade.
No artigo de ANNE V. WILSON SILVIA BELLEZZA intitulado “Consumer Minimalism” o consumidor minimalista é definido a partir das seguintes características:
1. Número de posses
2. Estética mínima
3. Consumo com curadoria
Para essas autoras, o minimalismo é mais do que um movimento, é um VALOR. Mas o que é um “valor”? É uma “crença duradoura de que um determinado modo de conduta é socialmente preferível ao seu oposto ou a um modo de conduta alternativo”. Um valor, portanto, orienta ações e atitudes em direção a metas de vida importantes e significativas
Além disso, a partir da pesquisa feita, os autores concluíram que o minimalismo, para a maioria das pessoas, se manifesta também como uma aspiração ou objetivo, ou seja, “eu desejo ser minimalista, mas ainda não estou lá”, ou ainda “eu admiro pessoas e celebridades minimalistas, elas me inspiram e eu quero chegar lá”.
Nesse artigo, as autoras concluíram que o consumidor minimalista é aquele que prefere fazer uma curadoria criteriosa de produtos, escolhendo os de melhor qualidade em detrimento da quantidade. Curiosamente, pesquisas anteriores sobre perfis de consumo mostraram que a maioria das pessoas preferem quantidade e não qualidade. Daí surge a ideia de que os consumidores minimalistas seriam mais conscientes, mais racionais — e, por extensão, “moralmente superiores” — do que aqueles que compram por impulso ou por necessidade imediata.
Agora, vamos falar a verdade:
O que tem de moralmente superior em adquirir uma cadeira de 8 mil reais? O mercado entendeu bem o minimalismo como “valor” e criou produtos de alto valor que simbolizam esse status superior do minimalismo.
Mas quem realmente pode se dar ao luxo de consumir menos e melhor? Quem consegue olhar para o consumo como expressão de identidade e não de sobrevivência?
Talvez o ponto mais incômodo seja esse: o minimalismo de mercado continua sendo consumo. E quando ele vem carregado de uma narrativa de virtude e superioridade ética, a gente precisa se perguntar: o que está sendo comprado aqui é um objeto… ou um símbolo de status?
Como designer, eu acredito que a curadoria de produtos é essencial para se definir a estética do ambiente. A mobília, os itens decorativos, os tecidos... Todos os objetos carregam um significado para além da estética e da funcionalidade. A pegada de carbono, a origem da fábrica, a procedência dos materiais, a idoneidade do fornecedor e a exclusividade de um design são algumas das questões envolvidas na escolha de um produto.
Acredito que a nossa função não é apenas selecionar o “menos” ou o “mais bonito”, mas trazer sentido e critério para o processo de escolha. Não se trata de pregar uma estética neutra, mas de propor uma estética consciente, afetiva e alinhada com os valores de quem vai habitar aquele espaço.
No fim das contas, um bom projeto não é aquele que ostenta a simplicidade como símbolo de status, mas aquele que traduz com honestidade a vida e os valores mais íntimos do usuário do espaço
Referência:
Wilson AV, Bellezza S. Consumer Minimalism. Campbell MC, McFerran B, eds. Journal of Consumer Research. 2022;48(5):796-816. doi:10.1093/jcr/ucab038
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